sábado, 29 de junho de 2013

A guerra mundial zumbi: uma metáfora do Apocalipse

29.06.2013

"Guerra Mundial Z" faz uma brilhante metáfora de como uma pandemia global é capaz de ameaçar a humanidade
De abril de 2009 a agosto de 2010, o mundo viveu sob o prenúncio de um apocalipse iniciado no México e que se espalhou por 75 países, fazendo com que a Organização Mundial de Saúde chegasse a decretar o estado de pandemia (que é o nível 6 de ameaça à humanidade, o último da escala). A origem era um surto viral, uma mutação da gripe suína, que ficou conhecida como Influenza A. Morreram 18 mil pessoas.

Filme estrelado por Brad Pitt passou por refilmagens, que melhoraram seu desempenho

Nesse caso, a OMS agiu rápido e os países tiveram condições de combater a doença, mas pode ser que nem sempre seja assim. A Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que surgiu em 2003 e matou milhares de pessoas, retroagiu, mas ainda está no ar, matando em média 100 pessoas por ano. Segundo levantamento, a ciência conhece apenas 15% das espécies microbiológicas que podem ameaçar o homem. Portanto, a verdadeira ameaça ainda pode estar por vir.

A História registra pandemias que chegaram a dizimar boa parte da humanidade, como a Peste Negra (ou bubônica, no século XIV), que matou 75 milhões de pessoas - um terço da população da época; e a Gripe Espanhola, de 1918, que matou mais 25 milhões.

Partindo desses registros da História, "Guerra Mundial Z" faz uma metáfora de uma pandemia que atinge, indistintamente, todos os países do mundo, tendo um vírus que se espalha pelo mundo afora e atinge, em poucas horas, todas as nações do planeta. Claro, o filme exagera, ao mostrar uma contaminação que se disseminar em poucos minutos de uma pessoa. No entanto, a premissa básica da realidade é apenas o ponto de partida. E é isso que interessa a "Guerra Mundial Z": o caráter da realidade. A plausibilidade, de ser efetivamente real, é o que o leva a ser o grande filme sobre o tema, superando obras a série "Extermínio" (2002), de Danny Boyle e Juan Carlos Fresnadillo, e "Contágio", de Steven Soderbergh - e, claro, a aventuresca série "Resident Evil".

A proposta realista é traduzida, logo nas primeiros cenas, quando se vê o café da manhã de uma família, entre conversas e planos. Em seguida, eles estão na rua, num engarrafamento que tomam por rotineiro. Logo, percebem que há algo errado. A sequência, brilhante, se consuma a partir de uma explosão e o consequente pânico entre centenas de pessoas correndo e gritando a esmo e zumbis atacando-as. Quem é alcançado se infecta imediatamente. Essa notável construção cinematográfica é brindada com um "plongée" (a câmera no alto registra tudo) dos mais criativos.

A base

O longa é baseado num romance de Max Brooks, 41, filho do ator, comediante e cineasta Mel Brooks (de "O jovem Frankenstein" e "Drácula, Morto mas Feliz") e da atriz Anne Bancroft (de "A Primeira Noite de um Homem" e "Grandes Esperanças"). Sua trama foi moldada a partir de pesquisa sobre episódios da Segunda Guerra Mundial. No livro, Brooks deu voz a diversos personagens que narram os acontecimentos reais da guerra como fossem ataques de zumbis. A obra, contudo, sofreu substancial mudança na adaptação para o cinema. Todos os narradores, por exemplo, foram condensados em apenas um, Gerry Lane (Brad Pitt), ex-investigador das Nações Unidas que percorre diversos países a fim de encontrar um antídoto contra a pandemia zumbi.

Curiosamente, ele não é um colaborador espontâneo, mas um refém dos militares, os quais o obrigam a efetivar a missão sob a ameaça de deixar sua mulher e filhas sem proteção. Também não é revelado que tipo de trabalho ele executou como agente da ONU, mas seu amigo e ex-patrão Thierry Umotoni (Fana Mokoena), o destaca como um homem habilidoso, profundo observador e capaz de distinguir frascos de vacinas e os de vírus.

O olhar científico

No livro de Brooks, a China é o lugar do surgimento do vírus que se espalha rapidamente pelo mundo. No filme, o ponto zero não é determinado. A narrativa, por sua vez, começa na Filadélfia, EUA, e vai para Coreia do Sul. Lá, em uma prisão militar norte-coreana ele encontra um agente duplo da CIA que o orienta a ir para Israel. O país esta isolado por uma nova muralha, com dezenas de metros de altura. Esta, evidentemente, não será obstáculo para os zumbis.

É impressionante a sequência na qual, atraídos pelo som estridente que sai do interior dos muros, os zumbis se amontoam para uma escalada. A invasão é espetacular. Sintetiza a fragilidade das nações, a instalação do caos no mundo e a exposição da destruição das civilizações, que, retornam, assim, ao estado de barbárie. A ciência explica isso pela "teoria dos enxames", o agrupamento dos animais da mesma espécie em bandos ou grupos. Motivo: a proteção ou sobrevivência.

Mesmo atrapalhado por alguns "furos" do roteiro, a expressão de realidade de "Guerra Mundial Z" não sofre abalos - o filme continua consistente. Algumas das cenas de furos encontram-se a partir da sequência em que Pitt decepa a mão esquerda tenente israelense (Daniella Kertesz) e tem de pegar um outro avião, no qual se encontra um zumbi "adormecido" e que, evidentemente irá disseminar o caos no interior da aeronave.

Refilmagens

Isso ocorre porque, foi justamente a partir daí que o filme teve de ser refeito até o seu desfecho. Segundo os produtores, o que estava filmado não fechava a história - essa parte teve de ser reescrita por dois roteiristas. Primeiro Damon Lindelof (de "Cowboys & Aliens" e "Além da Escuridão - Star Trek") e depois por Drew Goddard (de "Lost" e "O Segredo da Cabana"). Este deu um polimento ao fim no enredo, ajustando-o para uma continuidade plausível no interior do laboratório na Escócia e o desfecho emocionante narrado pelo personagem central interpretado por Pitt. Uma mudança que estourou o orçamento. Os produtores do filme esperavam gastar US$ 125 milhões; mas, para o filme ficar pronto, foram necessários US$ 190 milhões.

A mudança fez o efeito desejado e "Guerra Mundial Z" fecha a história de forma coerente e uma inesperada emoção. Com isso, é uma ótima ficção científica moldada na dualidade entre apocalipse e família, jornada e perdas, caos e esperança. Vence a esperança.

O cinema é pródigo em dar uma nova esperança ao homem. O perdão para os erros humanos sempre enseja a certeza de uma continuação e a criação de uma franquia. Daí que o soerguimento da civilização a partir do caos será o tema de suas sequências.

"Guerra Mundial Z" se impõe como uma notável metáfora do apocalipse da humanidade promovido por um vírus. Sem dúvida, um dos melhores filmes do ano.

Leia mais em blogs.
http://diariodonordeste.com.br/blogdecinema

Mais informações
Guerra Mundial Z (War World Z, EUA, 2013), de Marc Forster.

Com Brad Pitt, Mireille Enos, Daniella Kertesz e Fana Mokoena. 116 minutos. 14 anos. Salas e horários no caderno Zoeira
PEDRO MARTINS FREIRECRÍTICO DE CINEMA

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