Presidente do BC argentino pede demissão após duro discurso de Cristina Kirchner
- 01/10/2014 19h57
- Buenos Aires
O presidente do Banco Central argentino, Juan Carlos Fabrega, pediu demissão hoje (1º). Ele ocupava o cargo desde novembro de 2013. Os rumores de sua saída começaram a circular na véspera, após um duro discurso da presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, acusando instituições financeiras, entre elas o Banco Itaú, de realizar manobras especulativas, contribuir para a fuga de capitais e desestabilizar a economia do país.
Fabrega foi substituído por Alejandro Vanoli, presidente da Comissão Nacional de Valores (CNV), que começou a investigar as instituições denunciadas por Cristina Kirchner. Ontem (30), em dois discursos, a presidenta acusou os Estados Unidos, os chamados “fundos abutres” (que estão no meio de uma batalha judicial com a Argentina) e algumas entidades financeiras no país de tentarem “derrubar” seu governo. Indiretamente, ela responsabilizou o Banco Central pelo vazamento de informação privilegiada e pela falta de fiscalização de operações cambiais, que ela qualificou de “ilegais”.
Entre os nomes das entidades que, conforme afirmou, são responsáveis pelo aumento do dólar no mercado paralelo, a presidenta incluiu o do Itaú. O chefe de Gabinete da Presidência argentina, Jorge Capitanich, anunciou que a CNV puniria as instituições que realizem “ações de caráter ilegal ou especulativo” e que “ atentem contra a estabilidade macroeconômica” do país.
A saída de Fabrega ocorre no meio de uma crise da dívida externa, que levou a Argentina a dar o segundo calote em 13 anos. Dessa vez, ao contrário de 2001, o pais tem dinheiro e quer pagar os credores, mas foi impedido pelo juiz Thomas Griesa, de Nova York. Ele bloqueou o depósito feito pelo governo em um banco de Nova York, para pagar, em 30 de julho, um vencimento da dívida reestruturada.
O juiz americano disse que manterá o bloqueio até que o país cumpra sua sentença, favorável aos fundos “abutres”, aqueles que compraram títulos da dívida a preços baixos, depois do calote de 2001, e entraram na Justiça para cobrar o devido valor, sem desconto. Representando 1% dos credores, um grupo ganhou, no tribunal de Griesa, o direito de receber US$ 1,6 bilhão (o valor nominal mais os juros acumulados). O governo argentino informou que, por motivos jurídicos, não pode pagar este ano.
Apesar de não ter acesso a créditos externos, o país conseguiu pagar o que devia ao Fundo Monetário Internacional (FMI), renegociar a dívida com o Clube de Paris e com 93% dos detentores de bônus, que aceitaram receber em 30 anos e com descontos de ate 65%. Entretanto, os acordos têm uma cláusula impedindo a Argentina de fazer oferta melhor à minoria que rejeitou a reestruturação. O governo argumenta que, se pagar 100% do que deve aos "abutres", como quer Griesa, estaria violando a cláusula e correndo o risco de sofrer uma avalancha de processos.
Griesa, no entanto, exige o cumprimento imediato da sentença. A Argentina promoveu uma campanha internacional contra os fundos “abutres”. No discurso de ontem, Cristina Kirchner acusou o juiz, a quem chamou de “senil”, empresários, banqueiros e o governo norte-americano. Segundo a presidenta, eles quererem desestabilizar seu governo.
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