sábado, 12 de setembro de 2015


O mundo fracassa na proteção aos imigrantes


Por Maria Fernanda Arruda – do Rio de Janeiro:
Foi preciso aparecer uma criança morta numa praia europeia para as pessoas descobrirem que a Síria está vivendo uma guerra suja? De que adianta olhar para as consequências e não enfrentar as causas? Desde 2011 a Síria foi invadida por mercenários terroristas pagos por Estados Unidos, União Europeia, Turquia, Israel e Arábia Saudita e esta guerra arrasou um país inteiro, gerou o Estado Islâmico que está destruindo riquezas arqueológicas, produziu milhões de refugiados perdidos pelo mundo e mais de cem mil vítimas fatais, muitas delas crianças.
refugiados
Soa como desfaçatez, porém, falar sobre os resgates ou os naufrágios no Mediterrâneo sem mencionar os milhões de pessoas atingidas pelas guerras, notadamente as guerras na Síria e na Líbia, e sem registrar, sobretudo, o papel ativo, se não acusada a interferência dos países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, no desenvolvimento desses conflitos – seja por razões geopolíticas ou econômicas. O 11 de setembro, promovido por eles passou a justificar os morticínios provocados de forma cínica, como na proclamada “primavera árabe”, quando ditadores foram substituídos por outros ditadores, ou então pelo caos. São mais de 2 milhões de pessoas foram buscar abrigo em países vizinhos e acabaram em campos de refugiados; mais de 4 milhões de pessoas tiveram que abandonar suas casas. Na Líbia, onde em 2011 o ditador Muamar Kadafi foi assassinado em frente às câmaras de TV após uma intervenção da OTAN, autorizada pela ONU, a continuidade dos conflitos ajuda a produzir mortos aos milhares e refugiados aos milhões.
Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras
Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasil, sempre às sextas-feiras
Os barcos que partem da Líbia são esquifes que navegam. Em fins de agosto, em um único acidente morreram 800 refugiados.
Como se não tivessem nada a ver com a desgraça, os governantes dos Estados Unidos ficam calados, enquanto os líderes europeus cinicamente promovem operações humanitárias para resgatar os possíveis imigrantes das mãos dos “verdadeiros culpados pela crise”, os traficantes de pessoas, que são majoritariamente africanos, além de tomar as devidas providências para que a travessia não seja feita, em nenhuma circunstância. Vale a pena lembrar que, antes da eclosão da mais recente crise, esta já era uma rota bastante utilizada, e igualmente perigosa. Ainda assim, o governo italiano proibiu os barcos de pescadores da Sicília de prestar ajuda a qualquer tipo de embarcação em situação de risco, sob risco de serem acusados de “cumplicidade com a imigração ilegal”.

A Síria, com as suas imensas reservas de gás, tornou-se foco de atenção da Máfia do Petróleo, onde se chocam interesses franceses e os da British Pretroleum. Ligados à Síria estão os curdos, a maior etnia no Mundo, não reconhecida como Estado, por isso mesmo desprotegida e carente de abrigo. São 26,3 milhões de curdos: 350 mil encetaram a fuga para a Grécia, 2.600 deles tendo morrido.
O mundo está “fracassando em dar proteção” aos refugiados sírios e países estão fechando suas portas à tentativa dessa população de fugir da morte. O alerta é da Comissão de Inquérito da ONU para o Crimes na Síria, liderada pelo brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro. Em seu novo informe publicado, um dia depois da publicação de fotos de um garoto de 3 anos encontrado numa praia que criou um mal-estar internacional, O refugiados sírios querem chegar à Alemanha, idealizada como “terra prometida”, não só pelo carinho que querem enxergar nos rostos dos jovens alemães, e mais ainda nas palavras das autoridades. Mas, para os que conseguirem superar os obstáculos e entrar na Alemanha, não encontrarão facilidades maiores.
A apatia dos “grandes” europeus sempre foi lastimável, somando-se à omissão dos Estados Unidos, isso produzindo inevitavelmente à inação da ONU. O fanatismo religioso passa a ser utilizado para criar as condições que permitam a entrega do petróleo à Máfia. A criação e fortalecimento do Estado Islâmico veio acrescentar mais um motivo forte demais para a fuga desesperada. Os países ricos, europeus e mais os Estados Unidos, não aceitam refugiados de bom grado. Dos norte-americanos não há o que comentar: a América é dos americanos, já precisam enfrentar a migração mexicana clandestina e consideram o mundo árabe como mundo do terrorismo. A Alemanha já experimentou suprir a falta de mão-de-obra não qualificada com a imigração turca, que desde o primeiro momento enfrentou a rejeição neonazista. Na França, o grau de intolerância é extremamente alto, os imigrantes árabes sendo marginalizados em guetos transformados em submundo do crime. Hoje, o antagonismo clássico, árabes e cristãos, encarnados e azuis, está exacerbado pelo fanatismo político. O abismo cavado entre os dois mundos, o cristão ocidental e o árabe islâmico, é intransponível. Os cruzados eram movidos pelo amor à aventura e caminhavam armados pelos artigos da Fé; os mafiosos do petróleo são motivados pela ganância e caminham armados com dólares.
No Brasil, o mundo da casa grande & senzala só foi desafiado no século XX, a superação do arcaísmo sustentado na coroa imperial sendo contemporânea da chegada dos imigrantes, os refugiados da fome. As cidades modernas nasceram da combinação entre nativos, portugueses, italianos, alemães, espanhóis, árabes, judeus, japoneses. Seria impossível a rejeição, que ficou apenas como expressão patológica da elite minoritária e anacrônica, crente no bandeirantismo de 400 anos, ameaçado por italianinhos, turquinhos e pelos judeus da prestação. Problemas sérios foram provocados, entretanto, pelas migrações internas, especialmente aquela dos nordestinos, com destino a São Paulo.
Estes, foram forçados a um amplo processo de aculturação. Precisaram entender e se fazerem entendidos numa língua que não era a sua. Não mais a roça, mas o supermercado. Para os “baianos” a religião e a brincadeira estão muito próximos, encontrando-se nas Folias de Reis, nas Marujadas, nos Pastoreios, que se celebram com o fervor religioso que saúda os santos protetores e o Padrinho Padre Cícero. Não em São Paulo. Pois na grande metrópole não se festeja São João, mas o Natal do Papai Noel. Enfim e em resumo, o nordestino, o que fugiu da seca do sertão e foi se refugiar em São Paulo, esse rejeitou a sua cultura, ganhando para uso a cultura popularesca e de massa.
Muito depois do “Largo 13”, de Santo Amaro, o nordestino está confinado ao sul do sul da cidade, onde campeia a “marginalidade” que a Polícia Militar vai eliminando.
O nosso fugitivo já havia ganho o radinho de pilha, que o acompanhava em momentos de descanso. Agora, ele tem o celular. Para que, para falar com quem, sobre o que? E enfim, depois de 60 anos, ele vota. Vota em quem? Quem lhe disse alguma coisa? O que ele ouviu, além dos slogans e das cantigas de fazer boi dormir? Quem pode falar com esse povo? Lula pode! Por enquanto pode. E deve.
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