sexta-feira, 5 de julho de 2013

Conheça a história e a estrutura da Irmandade Muçulmana egípcia

Grupo demorou 85 anos para chegar ao poder e o perdeu em 12 meses.
Entenda como se organiza e o que pretende a Irmandade egípcia.

Da Associated Press
 
Manifestantes depredam sede da Irmandade Muçulmana na região de Muqatam, na capital egípcia, dia 1º de julho (Foto: Khalil Hamra/AP)
 
Manifestantes depredam sede da Irmandade
Muçulmana na região de Muqatam, na capital
egípcia, dia 1º de julho (Foto: Khalil Hamra/AP)
Logo após a queda do ex-ditador egípcio HJosni Mubarak, em fevereiro de 2011, a Irmandade Muçulmana abriu sua primeira sede em um luxuoso bairro do Cairo, com seu símbolo - duas espadas de ouro sob o Alcorão com o slogan "Prepare-se" - estampado na entrada. Foi um momento marcante: após décadas atuando na clandestinidade, o grupo fundamentalista muçulmano estava declarando sua legalidade e se assumindo como ator político no novo Egito. Simbolicamente, a sede estava localizada em um platô, onde muitos dos primeiros líderes executados do grupo foram enterrados há décadas.
As eleições fizeram da Irmandade o partido mais forte no Parlamento e levaram um de seus membros, Mohamed Morsi, à vencer o pleito para o cargo de primeiro presidente democraticamente eleito do país. Na última segunda-feira (1º), a sede foi invadida, incendiada e saqueada por manifestantes que exigiam a expulsão de Morsi.
Entenda e conheça o grupo que em 12 meses foi do topo ao chão do poder no Egito:

Estrutura
A Irmandade foi fundada em 1928, defendendo a chamada sharia, ou lei islâmica, e cresceu como um dos grupos políticos mais organizados, disciplinados e populosos do Egito, com milhões de membros em todo o país e filiais em todo o mundo islâmico.

No topo da hierarquia está o "guia geral", atualmente Mohammed Badie. A liderança executiva é exercida pelo Conselho de Orientação, composto de 16 a 19 membros. O guia geral e os membros do conselho de orientação são escolhidos pelo Conselho Shoura, a versão do grupo para uma legislatura composta de 75 a 90 membros escolhidos pelos conselhos regionais de todo o país.
O homem que acredita-se seja o membro mais poderoso é o vice de Badie, Khairat el-Shater, um rico empresário que era inicialmente o candidato da Irmandade para presidência até ser desclassificado por causa de uma prisão anterior. Morsi concorreu em seu lugar.
Os membros da Irmandade fazem um juramento para "ouvir e obedecer" a liderança do grupo e são organizados em uma hierarquia rígida. Na base estão os "usra" ou "família", um grupo de estudo pequeno o suficiente para que seus membros possam se reunir regularmente, construir laços pessoais, e discutir os ensinamentos do grupo sobre o Islã. Cada uma das milhares de "famílias" em todo o país reporta-se uma pirâmide de autoridade e recebe instruções de cima.
As famílias, no sentido de laços sanguíneos, também desempenham um papel importante. Membros da Irmandade tendem a se casar dentro da organização, conviver juntos em sua rede de mesquitas, clubes e escolas, e criar seus filhos no grupo. Seus membros incluem uma ampla gama de profissionais - médicos, engenheiros, professores e - muito importante - empresários de muito sucesso, cujos lucros ajudam a financiar o grupo.
O grupo também realiza muitos trabalhos de caridade, prestação de cuidados médicos gratuitos ou baratos, alimentação e outros serviços para os pobres.
Essa estrutura permitiu que o grupo sobrevivesse e até se espalhasse durante os anos de prisões e repressões, particularmente sob Hosni Mubarak.

'A organização banida'
Nas primeiras décadas de sua existência, a Irmandade esteve envolvida em assassinatos de governantes coloniais britânicos e de autoridades egípcias. Em 1954, o presidente Gamal Abdel-Nasser proibiu a Irmandade após culpá-la por uma fracassada tentativa de assassinato contra ele. Líderes foram executados e milhares de seus membros presos, muitas vezes submetidos a tortura.

Nos próximos quase 60 anos, contudo, o movimento cresceu - por vezes na clandestinidade, por vezes num regime semiaberto.
O sucessor de Abdel-Nasser, Anwar Sadat, inicialmente deu ao grupo algum espaço de manobra, eles renunciaram formalmente ao uso da violência em 1973. A Irmandade e outros movimentos islâmicos estabeleceram fortes laços nas universidades, embora Sadat tenha prendido muitos deles quando ativistas estudantis denunciavam a militância. Eles foram mais tarde libertados por Mubarak, que assumiu o poder após o assassinato de Sadat em 1981.
Sob Mubarak, o grupo farejou o poder via eleições parlamentares, apesar de rígido controle do regime e das fraudes eleitorais garantirem que as vitórias da oposição fossem mínimas. Na metade dos anos 1980 foi autorizada a candidatura em partidos políticos da oposição reconhecidos. No início de 1990, eles tiveram um bom desempenho nas eleições sindicais, ganhando o controle da liderança de vários. Mubarak atacou de volta, suspendendo as lideranças sindicais e prendendo membros da Irmandade.
Nos anos 2000, o grupo voltou para a política, concorrendo com candidatos independentes nas eleições parlamentares. Moderados no grupo argumentaram que a Irmandade aceitou os princípios da democracia, e que a única maneira de o Egito ser verdadeiramente democrático era os autorizando a competir livremente. Sua maior vitória veio em 2005, quando seus candidatos ganharam um quinto das cadeiras do Parlamento, apesar de confrontos quando as forças de segurança de Mubarak tentaram impedir os eleitores da oposição de votar.
A mostra de força demandou uma nova reação. O regime de Mubarak acusou o grupo de plantar violência e de lavagem de dinheiro, prendendo alguns de seus principais líderes, incluindo al-Shater. Mubarak também voltou atrás com promessas de reformas políticas, passando emendas constitucionais que solidificaram o controle de seu partido nas eleições.
Quando a juventude - principalmente de esquerda e secular -  convocou os protestos em massa contra Mubarak em 25 de janeiro de 2011, a liderança da Irmandade se recusou a participar. No entanto, os membros mais jovens o fizeram, e depois de alguns dias a liderança apoiou os protestos. Ainda assim, mesmo durante o auge do levante de 18 dias, membros da Irmandade se reuniram com o chefe de inteligência de Mubarak, levantando acusações de que eles estavam dispostos a chegar a um acordo se a proibição ao grupo fosse retirada.
Logo após a queda de Mubarak em 11 de fevereiro de 2011, os militares que tomaram o poder suspenderam a proibição. A Irmandade, então, rapidamente formou seu primeiro partido político, o Partido Liberdade e Justiça, inicialmente liderado por Mohamed Morsi.

Ideologia
A organização preza pelo governo segundo a lei de Deus, embora essas leis sejam muitas vezes vagas. Seus membros dizem que o grupo tolera uma vasta gama de opiniões, mas todas na extremidade conservadora da escala.

Duas figuras têm uma influência poderosa sobre o pensamento da Irmandade: Hassan al-Banna e Sayed Outb.
Al-Banna, um ex-professor, fundou a Irmandade de resistir tanto ao domínio colonial da Grã-Bretanha quanto ao secularismo na sociedade egípcia. Profundamente conservador, ele era um forte organizador e enfatizou a idéia de que a pregação e o ativismo espalhariam a palavra do Islã. Ele foi assassinado em 1949.
Qutb, um escritor secular que se tornou muçulmano, ascendeu na Irmandade nos anos 1950 e 1960. Ele defendeu uma visão linha dura de que o Islã deve transformar a sociedade e a sociedade que não seguir seus preceitos estava na "Jahiliya", ou idade pagã pré-islâmica. Sua ideologia teve uma forte influência sobre os grupos jihadistas modernos. Ele foi executado pelo regime de Abdel-Nasser em 1966.
A plataforma do partido político da Irmandade convoca o Egito a ser um "estado civil democrático, com uma base islâmica", dizendo que aceita os preceitos da democracia liberal, como a existência de eleições livres, a transferência de poder e a soberania dos órgãos eleitos no estabelecimento de leis. Mas o grupo, juntamente com outros muçulmanos, colocou cláusulas na Constituição pós-Mubarak prevendo que as leis aprovadas pelo parlamento não deve contradizer a sharia (lei islâmica).
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