Papa foi 'garantia' de que EUA e Cuba cumpririam o que fosse acordado
Primeiro, foi um pedido de intercessão feito pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, em janeiro, a seu colega na Santa Sé, o cardeal Pietro Parolin, no Vaticano.
Dois meses depois, o próprio presidente Barack Obama sensibilizou o papa Francisco, em Roma, sobre a saúde delicada de Alan Gross, americano que estava detido em Cuba desde 2009.
Passados poucos dias, o pontífice enviaria cartas a Obama e ao ditador cubano, Raúl Castro, pedindo que seguissem negociando para chegar a um acordo.
Em outubro, o Vaticano sediou um dos nove encontros entre altos representantes dos dois países –outro anfitrião era o Canadá.
"Não dá para subestimar a importância deste papa", disse uma fonte do governo americano familiarizado com as negociações ao "New York Times". "Esse papa, vindo da região, tem uma ressonância com líderes da região inclusive Cuba."
Nesta quinta (18), em suas primeiras declarações sobre o acordo, o argentino Francisco disse que a reaproximação foi um "trabalho honroso", fruto de "pequenos passos".
"Hoje estamos todos felizes, porque vimos como duas pessoas que não se falavam por tantos anos deram um passo de aproximação ontem [quarta]", disse o religioso.
Para o vaticanista americano Thomas Reese, vários fatores contribuíram para a escolha do "facilitador" pelos dois lados. "Quantos países poderiam ter participado desse tipo de operação sem vazar nenhuma informação? Além disso, o Vaticano também não beneficiaria nenhum lado nas negociações."
Para Obama, o apoio de um papa popular como Francisco também seria importante diante das críticas que certamente viriam da oposição americana, opina Reese.
"O regime cubano, por sua vez, sabia que o Vaticano estava pressionando [os EUA] pelo fim do embargo", diz.
O papel do pontífice teria sido, principalmente, convencer Castro a trocar os três cubanos presos nos EUA pelo ex-agente americano detido em Cuba e a soltar Gross, servindo como uma espécie de "fiador" do acordo, para garantir que as duas partes o cumpririam.
"Por causa do sucesso dessa negociação, talvez outros países passem a procurar o Vaticano para negociações delicadas", aposta Reese. Ele, contudo, não vê nisso um "desvio de função".
"Todo cristão é chamado a trabalhar pela justiça e pela paz, e o papa tem uma posição única no mundo para fazer isso, como sempre fizeram seus antecessores no conflito entre Israel e Palestina, por exemplo", diz.
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