Felipe, durante a cerimônia de ratificação da lei de abdicação de seu pai, Juan Carlos, nesta quarta-feira (18) (Foto: AFP)
O Diário Oficial da Espanha publicou à 0h desta quinta-feira (19), no horário local (19h desta quarta, no horário de Brasília), a lei que oficializa a abdicação de Juan Carlos I, tornando automaticamente Felipe VI de Bourbon o novo rei do país. Felipe, antes Príncipe das Astúrias, assume o trono do qual abdicou seu pai, Juan Carlos I, que foi rei por 39 anos.
Aos 46 anos, Felipe VI tem a missão de garantir a continuidade de uma monarquia parlamentar instaurada progressivamente depois da chegada ao trono de Juan Carlos, em 1975, após ter sido designado pelo ditador Francisco Franco como seu sucessor. Seu grande desafio é agradar um país onde o apoio à monarquia está em baixa devido a uma série de escândalos que não o afetaram diretamente.
Educado para ser rei
Nascido no dia 30 de janeiro de 1968, em Madri, ele foi educado na Espanha e no exterior. Com formação militar, foi educado por toda a sua vida com o único objetivo de se tornar chefe de Estado. "Sua meta, sua única meta, é servir à Espanha. Está imbuído de forma profunda de que deve ser o primeiro servidor", confessou a rainha Sofía em certa ocasião.
O rei Juan Carlos abraça seu filho, Felipe, durante
cerimônia na qual o monarca assinou a lei que
confirma sua abdicação do trono nesta quarta (18)
(Foto: Juan Medina/Reuters)
No dia 2 de junho, Juan Carlos, de 76 anos, anunciou sua abdicação. Em discurso à nação, ele afirmou que decidiu abdicar em favor do filho para que se possa "abrir uma nova etapa de esperança na qual se combinem a experiência adquirida e o impulso de uma nova geração". E ressaltou "um impulso de renovação, de superação, de corrigir erros e abrir caminho para um futuro decididamente melhor".
O Parlamento espanhol aprovou a lei de abdicação e proclamação de Felipe VI nesta terça (17). Nesta quarta, Juan Carlos assinou a lei, a última de seu mandato. A assinatura foi referendada pelo presidente de governo (equivalente a primeiro-ministro), Mariano Rajoy.
A cerimônia de proclamação será realizada nesta quinta, no Congresso dos Deputados, em Madri, com a presença de ministros, deputados e senadores. Depois, a família real seguirá para o Palácio Real, onde receberá cerca de dois mil convidados no salão do trono.
Felipe de Bourbon, sua mulher Letizia e suas duas
filhas Leonor e Sofia posam para foto em sua casa
em Madri em maio de 2014 (Foto: AFP Photo/ Pool/
Borja Fotografos)
Imagem de rei moderno
De semblante grave, sorridente, embora mais reservado do que o pai, o novo rei sofreu durante muito tempo a comparação com Juan Carlos, em uma Espanha onde muitos se declaravam mais "juancarlistas" do que monárquicos.
Mas os diversos problemas de saúde de Juan Carlos, sua polêmica viagem em abril de 2012 para caçar elefantes em Botsuana e a investigação por corrupção contra sua filha mais nova, a infanta Cristina, e o marido dela, Iñaki Urdangarin, derrubaram a popularidade do então rei.
"A figura do rei sofreu uma deterioração e a do príncipe de Astúrias se consolida como a de uma pessoa que está muito preparada", disse no início de 2013 o professor de direito constitucional Antonio Torres del Moral.
De olhos azuis e quase dois metros de altura, o elegante Felipe se esforçou para passar uma imagem de proximidade e modernidade. Também contribuiu para isso o seu casamento em 2004 com Letizia Ortiz, uma plebeia, divorciada e jornalista, algo inédito na história da monarquia espanhola.
Dessa união nasceram suas duas filhas: Leonor, em outubro de 2005 - que passa a ser Princesa das Astúrias e a herdeira do trono -, e Sofía, em abril de 2007.
Aprendendo a ser rei
Em 1977, com 9 anos, um pequeno príncipe de cabelo loiro fez seu primeiro discurso público diante das Cortes espanholas ao ser nomeado Príncipe das Astúrias e herdeiro da Coroa.
Talvez a maior lição para ele tenha chegado quatro anos depois, quando, no dia 23 de fevereiro de 1981, assistiu junto ao rei à tentativa de golpe de Estado do tenente-coronel Antonio Tejero. "O pai quis que ele estivesse no gabinete para que o olhasse atuando", relatou Sofía no livro "La reina", de Pilar Urbano.
"Fez bem, porque quando você é um jovem de 12 anos, essas cenas, essas atitudes de firmeza do pai, essa luta para os espanhóis ganharem a liberdade e a democracia, tudo isso fica gravado na consciência e é uma lição inesquecível", acrescentou.
Depois de estudar no Canadá entre 1985 e 1988, integrou as academias militares espanholas de Terra, Mar e Ar, seguidas por outros cinco anos na Universidade Autônoma de Madri, onde estudou Direito e disciplinas de Economia. Nos Estados Unidos, fez um mestrado em Relações Internacionais na Universidade de Georgetown, em Washington.
Ao voltar à Espanha, começou a intensificar sua presença em atos oficiais, principalmente no exterior, graças ao seu bom domínio do inglês.
Catalão
Também fala com fluência o catalão, uma virtude especialmente apreciada na Catalunha, grande região do nordeste da Espanha com uma identidade marcada e pretensões de independência reforçadas pela crise econômica.
Desde 1996, ele era o representante espanhol nas cerimônias de posse dos presidentes latino-americanos, ao mesmo tempo em que concedia audiências e presidia a Fundação Príncipe de Astúrias, que concede anualmente os prêmios de mesmo nome.
Depois, as diversas cirurgias do rei desde 2010 levaram o príncipe a assumir seu papel em diversos atos oficiais.
Piloto de helicóptero e jogador de futebol amador, Felipe VI é um grande praticante de esportes, uma tradição familiar. Participou inclusive dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, com a equipe de vela, e foi porta-bandeira da Espanha na cerimônia de abertura.
Última página da lei publicada pelo Diario Oficial espanhol, assinada por Juan Carlos I e por Mariano Rajoy, presidente de governo da Espanha (Foto: Reprodução/Boletín Oficial del Estado)
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