Presidente do BC argentino pede demissão após duro discurso de Cristina Kirchner
O presidente do Banco Central argentino, Juan Carlos
Fabrega, pediu demissão hoje (1º). Ele ocupava o cargo desde novembro de
2013. Os rumores de sua saída começaram a circular na véspera, após um
duro discurso da presidenta da Argentina, Cristina Kirchner, acusando
instituições financeiras, entre elas o Banco Itaú, de realizar manobras
especulativas, contribuir para a fuga de capitais e desestabilizar a
economia do país.
Fabrega foi substituído por Alejandro
Vanoli, presidente da Comissão Nacional de Valores (CNV), que começou a
investigar as instituições denunciadas por Cristina Kirchner. Ontem
(30), em dois discursos, a presidenta acusou os Estados Unidos, os
chamados “fundos abutres” (que estão no meio de uma batalha judicial com
a Argentina) e algumas entidades financeiras no país de tentarem
“derrubar” seu governo. Indiretamente, ela responsabilizou o Banco
Central pelo vazamento de informação privilegiada e pela falta de
fiscalização de operações cambiais, que ela qualificou de “ilegais”.
Entre
os nomes das entidades que, conforme afirmou, são responsáveis pelo
aumento do dólar no mercado paralelo, a presidenta incluiu o do Itaú. O
chefe de Gabinete da Presidência argentina, Jorge Capitanich, anunciou
que a CNV puniria as instituições que realizem “ações de caráter ilegal
ou especulativo” e que “ atentem contra a estabilidade macroeconômica”
do país.
A saída de Fabrega ocorre no meio de uma crise da dívida
externa, que levou a Argentina a dar o segundo calote em 13 anos. Dessa
vez, ao contrário de 2001, o pais tem dinheiro e quer pagar os
credores, mas foi impedido pelo juiz Thomas Griesa, de Nova York. Ele
bloqueou o depósito feito pelo governo em um banco de Nova York, para
pagar, em 30 de julho, um vencimento da dívida reestruturada.
O
juiz americano disse que manterá o bloqueio até que o país cumpra sua
sentença, favorável aos fundos “abutres”, aqueles que compraram títulos
da dívida a preços baixos, depois do calote de 2001, e entraram na
Justiça para cobrar o devido valor, sem desconto. Representando 1% dos
credores, um grupo ganhou, no tribunal de Griesa, o direito de receber
US$ 1,6 bilhão (o valor nominal mais os juros acumulados). O governo
argentino informou que, por motivos jurídicos, não pode pagar este ano.
Apesar
de não ter acesso a créditos externos, o país conseguiu pagar o que
devia ao Fundo Monetário Internacional (FMI), renegociar a dívida com o
Clube de Paris e com 93% dos detentores de bônus, que aceitaram receber
em 30 anos e com descontos de ate 65%. Entretanto, os acordos têm uma
cláusula impedindo a Argentina de fazer oferta melhor à minoria que
rejeitou a reestruturação. O governo argumenta que, se pagar 100% do
que deve aos "abutres", como quer Griesa, estaria violando a cláusula e
correndo o risco de sofrer uma avalancha de processos.
Griesa, no
entanto, exige o cumprimento imediato da sentença. A Argentina promoveu
uma campanha internacional contra os fundos “abutres”. No discurso de
ontem, Cristina Kirchner acusou o juiz, a quem chamou de “senil”,
empresários, banqueiros e o governo norte-americano. Segundo a
presidenta, eles quererem desestabilizar seu governo.